Regras de transição ...substitutivo PEC 287/2016: “nada de novo no ovo da serpente” (HG)
Em primeiro lugar, na sua
redação original, não se tratava de uma regra de transição, mas, e isso sim, de
“corte”, que fica no plano do “escapar” ou não das novas regras, permitindo situações
absurdas (casos-limites) nas quais se enquadram a do segurado homem com 49 anos
de idade e 34 anos de tempo de contribuição. Esse segurado teria que esperar
mais 16 anos – ou mais – para se aposentar, já que a PEC autoriza que a
idade mínima continue acompanhando o aumento da sobrevida da população
brasileira aos 65 anos de idade. Imaginemos, agora, uma mulher com 44 anos de
idade e 29 anos de contribuição?!
A idade de corte era de
45 anos, se mulher, e 50, se homem, além de um pedágio de 50% sobre o tempo que
falta na data da promulgação da PEC. Nesse caso, um homem com 50 anos de idade
e 32 anos de tempo de contribuição, teria de contribuir por 36 anos e 06 meses,
nada mais nada menos.
No substitutivo, aí sim,
estamos diante de uma regra de transição, por prever uma idade mínima a ser
atingida - 53 para a mulher e 55 para o homem - e um pedágio de 30% sobre o que
faltará para cumprir 30 anos, se
mulher, ou 35, se homem. O detalhe está na previsão de um aumento de um (01) ano (na idade mínima) a
cada dois anos, a partir
do primeiro dia do terceiro exercício subsequente à data de publicação desta
Emenda, até o limite de sessenta e dois anos para as mulheres e sessenta e
cinco anos para os homens. Ainda, está previsto um congelamento da idade mínima com o
cumprimento do pedágio. Como fica, então, a tabela de transição?
TABELA
DE TRANSIÇÃO IDADE
ANO
|
IDADE
HOMENS
|
IDADE
MULHERES
|
2017
|
55
|
53
anos
|
2020
|
56
|
54
|
2022
|
57
|
55
|
2024
|
58
|
56
|
2026
|
59
|
57
|
2028
|
60
|
58
|
2030
|
61
|
59
|
2032
|
62
|
60
|
2034
|
63
|
61
|
2036
|
64
|
62
|
2038
|
65
|
Vamos às simulações que
ilustram, de forma verdadeiramente drástica, os efeitos práticos das novas
regras (por
ora, considerando apenas o segurado homem):
Quadro 1
Idade: 45 anos
Tempo de Contribuição: 25 anos
Pedágio: 3 anos
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
45
|
55
|
25
|
2019
|
46
|
55
|
26
|
2020
|
47
|
56
|
27
|
2021
|
48
|
56
|
28
|
2022
|
49
|
57
|
29
|
2023
|
50
|
57
|
30
|
2024
|
51
|
58
|
31
|
2025
|
52
|
58
|
32
|
2026
|
53
|
59
|
33
|
2027
|
54
|
59
|
34
|
2028
|
55
|
60
|
35
|
2029
|
56
|
60
|
36
|
2030
|
57
|
61
|
37
|
2031
|
58
|
61
|
38 (congela a idade mínima)
|
2032
|
59
|
61
|
39
|
2033
|
60
|
61
|
40
|
2034
|
61
|
61
|
41
|
Quadro 2
Idade: 50 anos
Tempo de Contribuição: 25 anos
Pedágio: 3 anos
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
50
|
55
|
25
|
2019
|
51
|
55
|
26
|
2020
|
52
|
56
|
27
|
2021
|
53
|
56
|
28
|
2022
|
54
|
57
|
29
|
2023
|
55
|
57
|
30
|
2024
|
56
|
58
|
31
|
2025
|
57
|
58
|
32
|
2026
|
58
|
59
|
33
|
2027
|
59
|
59
|
34
|
2028
|
60
|
60
|
35
|
2029
|
61
|
60
|
36
|
2030
|
62
|
61
|
37
|
2031
|
63
|
61
|
38
|
Quadro 3
Idade: 55 anos
Tempo de Contribuição: 25 anos
Pedágio: 3 anos
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
55
|
55
|
25
|
2019
|
56
|
55
|
26
|
2020
|
57
|
56
|
27
|
2021
|
58
|
56
|
28
|
2022
|
59
|
57
|
29
|
2023
|
60
|
57
|
30
|
2024
|
61
|
58
|
31
|
2025
|
62
|
58
|
32
|
2026
|
63
|
59
|
33
|
2027
|
64
|
59
|
34
|
2028
|
65
|
60
|
35
|
2029
|
66
|
60
|
36
|
2030
|
67
|
61
|
37
|
2031
|
68
|
61
|
38
|
Quadro 4
Idade: 60 anos
Tempo de Contribuição: 25 anos
Pedágio: 3 anos
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
60
|
55
|
25
|
2019
|
61
|
55
|
26
|
2020
|
62
|
56
|
27
|
2021
|
63
|
56
|
28
|
2022
|
64
|
57
|
29
|
2023
|
65
|
57
|
30
|
2024
|
66
|
58
|
31
|
2025
|
67
|
58
|
32
|
2026
|
68
|
59
|
33
|
2027
|
69
|
59
|
34
|
2028
|
70
|
60
|
35
|
2029
|
71
|
60
|
36
|
2030
|
72
|
61
|
37
|
2031
|
73
|
61
|
38
|
O
segurado que, em 2018, contar com 25 anos de contribuição, esteja ele com 45 ou
50 anos de idade, somente se aposentará depois dos 60 anos de idade, em razão da
idade mínima ou do pedágio (quadros 1 e
2). Por sinal, o segurado que contar com menos de 20 anos de tempo de
contribuição não será contemplado pela regra de transição, porquanto a idade
mínima será de 65 anos. Os segurados com mais de 55 anos de idade, também ficarão,
por opção, de fora da tabela, uma vez que atingirão os 65 anos de idade antes
de cumprir o pedágio (quadros 3 e 4).
Quadro 5
Idade: 45 anos
Tempo de Contribuição: 30 anos
Pedágio: 01 anos e 06 meses
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
45
|
55
|
30
|
2019
|
46
|
55
|
31
|
2020
|
47
|
56
|
32
|
2021
|
48
|
56
|
33
|
2022
|
49
|
57
|
34
|
2023
|
50
|
57
|
35
|
2024
|
51
|
58
|
36
|
2025
|
52
|
58
|
37 (congela a idade mínima)
|
2026
|
53
|
58
|
38
|
2027
|
54
|
58
|
39
|
2028
|
55
|
58
|
40
|
2029
|
56
|
58
|
41
|
2030
|
57
|
58
|
42
|
2031
|
58
|
58
|
43
|
Quadro 6
Idade: 50 anos
Tempo de Contribuição: 30 anos
Pedágio: 01 anos e 06 meses
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
50
|
55
|
30
|
2019
|
51
|
55
|
31
|
2020
|
52
|
56
|
32
|
2021
|
53
|
56
|
33
|
2022
|
54
|
57
|
34
|
2023
|
55
|
57
|
35
|
2024
|
56
|
58
|
36
|
2025
|
57
|
58
|
37 (congela a idade mínima)
|
2026
|
58
|
58
|
38
|
Quadro 7
Idade: 55 anos
Tempo de Contribuição: 30 anos
Pedágio: 01 anos e 06 meses
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
55
|
55
|
30
|
2019
|
56
|
55
|
31
|
2020
|
57
|
56
|
32
|
2021
|
58
|
56
|
33
|
2022
|
59
|
57
|
34
|
2023
|
60
|
57
|
35
|
2024
|
61
|
58
|
36
|
2025
|
62
|
58
|
37
|
Quadro 8
Idade: 60 anos
Tempo de Contribuição: 30 anos
Pedágio: 01 anos e 06 meses
Ano
|
Idade
|
Idade
mínima
|
Tempo
de Contribuição
|
2018
|
60
|
55
|
30
|
2019
|
61
|
55
|
31
|
2020
|
62
|
56
|
32
|
2021
|
63
|
56
|
33
|
2022
|
64
|
57
|
34
|
2023
|
65
|
57
|
35
|
2024
|
66
|
58
|
36
|
2025
|
67
|
58
|
37
|
A idade mínima é que dita
o tempo de espera ou de contribuição para além do necessário, no caso de o
segurado continuar trabalhando até o implemento da idade mínima, resta
verificar que o indivíduo que mais possui tempo de contribuição é que, por fim,
mais terá contribuído, basta comparar os quadros
1 e 5. O segurado com mais de 60 anos de idade e menos de 32 anos de
contribuição ficará, por opção, de fora da tabela, uma vez completará os 65
anos de idade antes de cumprir o pedágio (tomei emprestado o quadro 8). Ninguém que for se valer da
regra de transição vai conseguir se aposentar antes dos 56 anos de idade, a
menos que complete os 55 anos de idade e cumpra o pedágio até 31/12/2021,
homens com, no mínimo, 53 anos de idade, e 34 anos de tempo de contribuição.
Os exemplos são tão
numerosos que colocam o problema da escolha. Seja como for, eles são suficientes
para se lançar algumas conclusões, ainda que parciais, sobre a nova regra de
transição, numa comparação com a redação original da PEC 287/2016. Ainda que
ela contemple os segurados com idade inferior a 45 (M) ou 50 (H), para os
indivíduos com idade igual ou superior, a nova redação consegue ser muito pior,
na medida em que faz o segurado entrar num empreendimento longo, qual seja, perseguir incansavelmente a
idade mínima, que aumentará a cada dois anos. Nas tabelas, parte-se de uma condição que talvez seja o problema maior, qual seja, o segurado deverá manter-se empregado/contribuindo, pelo menos até cumprir o pedágio e congelar a idade mínima. Aquele que ficar desempregado - o que não é difícil nesse país - ou deixar de contribuir pode fazer com que a idade mínima escape entre os dedos, tornando impossível o seu cumprimento antes dos 65 anos de idade.
Nem uma nem outra das
duas regras corresponde à realidade das coisas ou cumpre com a função de atenuar
os impactos da reforma pretendida. A original desconhece os segurados com idade
inferior a 45 (M) ou 50 (H), enquanto a segunda os aceita, mas cria uma regra
de aumento progressivo da idade mínima, com a deliberada intenção de arrastar o
segurado para a regra geral, ocultando variedades e suas diferenças. O
problema, como sempre, está no fato de menos se considerar o tempo de
contribuição (fato gerador da aposentadoria por tempo de contribuição) e
mais a idade. Em poucas palavras, ainda falta
uma regra de transição proporcional ao tempo de contribuição, o que constitui
um minus com relação às regras gerais
sugeridas pela PEC 287/2016.
Ninguém, decerto, do
governo admitiria isso; mas admite-se quanto ao Direito, o que não é menos
absurdo. Não me assustam essas novas regras, o que se rejeita é que alguém diga
que elas são fruto de um diálogo com a sociedade e instituições.
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